terça-feira, 10 de julho de 2012

Crítica: Para Roma, com Amor




Quatro doses de humor de qualidade


No livro Conversas com Woody Allen, o cineasta título comenta com o autor, Eric Lax, que mantém guardados em uma gaveta inúmeras gags e afins que ainda não foram postas em prática. Segundo o diretor, em geral, trata-se de pequenas esquetes que talvez não tivessem potencial para originar um longa-metragem. Seriam narrativas curtas, como Édipo Arrasado, um dos três média-metragens componentes de Contos de Nova York (New York Stories), de 1989 . Ao que me parece, Para Roma, com Amor pode ser originário de uma pequena busca nesse recanto de ideias. Afinal, o filme é composto por quatro histórias independentes que, inclusive, se passam em diferentes períodos de tempo, mas que são desenvolvidas de forma intercalada.
Logo no início da obra, o narrador se apresenta como um conhecedor de tudo o que acontece em Roma. A partir daí, o pouco presente funcionário público nos encaminha a quatro situações distintas. Uma delas é o desenrolar do desencontro de um casal interiorano recém-chegado à capital. Ao procurar um salão de beleza, Milly (Alessandra Matonardi) se perde, pairando em meio às filmagens de uma produção cinematográfica. Antonio (Alessandro Tíbero), por sua vez, precisa fingir que a prostituta Anna (Penélope Cruz) é sua esposa. A segunda história é a trajetória de um homem, Leopoldo (Roberto Benigni), que se torna famoso repentinamente. A terceira apresenta o envolvimento de um jovem arquiteto, Jack (Jesse Eisenberg), com a melhor amiga de sua esposa, Monica (Elen Page). Por fim, há a história um casal, Jerry (Woody Allen) e Phyllis (Judy Davis), que vai ao país europeu conhecer Michelangelo (Flavio Parenti), noivo de sua filha Hayley (Alisson Pill).
A narrativa é quase um apanhado de piadas, seja humor pastelão ou não. No entanto, sob o olhar de Allen, tudo se mostra mais refinado, fugindo ao humor barato. O realizador sabe dosar muito bem essa miscelânea de gags, equilibrando e arrancando risadas até de clichês, como medo de voar de avião ou uma pessoa e cantores de chuveiro. Outro aspecto interessante da obra são as falas em italiano. O uso do inglês tem uma certa lógica dentro da trama. As histórias de Benigni e do casal interiorano, por exemplo, são basicamente faladas no idioma da Itália.

Os protagonistas seguem a linha de outras obras de Allen. As mulheres são poderosas, independentes, mas um pouco confusas. Os homens são neuróticos, falam rápido e são facilmente envolvidos pelas mulheres. No entanto, isso não apaga o mérito dos atores, que, em geral, se encaixam bem em seus papéis. O destaque, claro, fica para a aparição, depois de sete anos, do próprio diretor em um de seus filmes. Alec Baldwin também chama a atenção, em especial, devido ao caráter diferenciado de seu personagem, que funciona como uma espécie de consciência do personagem de Eisenberg.
Como já esteve evidente em outras obras como Memórias (Stardust Memories), de 1980, e Celebridades (Celebrity), de 1998, o filme apresenta diversas referências ao cinema italiano, em especial, o felliano. A história do um casal interiorano que vai a Roma, mas se desencontra e a noiva acaba conhecendo um importante ator italiano é a premissa de Abismo de um Sonho (Lo Sceicco Bianco), de 1952. Já os paparazzi da história protagonizada por Benigni, por sua vez, remetem ao A Doce Vida (La Dolce Vita), de 1960, por exemplo.

Enfim, Para Roma, com Amor é uma interessante comédia alleniana. Em meio a um enredo leve, as piadas que tornaram seu realizador famoso continuam. No entanto, faltou uma complementaridade narrativa, o que dá a impressão de que são pequenas piadas enfileiradas. Apesar de não ser uma obra-prima, como Manhatann (Manhattan), de 1979, o filme é interessante, divertido e detentor de diversos méritos, que vão além das belas paisagens italianas.
Para Roma, com Amor
Título original: To Rome with Love
Ano: 2012                               Estreia no Brasil: Jun/12
Direção e roteiro: Woody Allen
Com: Woody Allen, Alec Baldwin, Roberto Benigni, July Page, Penélope Cruz, Elen Page, Jesse Eisenberg, entre outros
Duração: 102 minutos


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