sábado, 28 de julho de 2012

Crítica: Batman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge



O ressurgimento do homem por trás da máscara


Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge (The Dark Knight Rise) é uma daquelas grandes exceções do cinema, em que praticamente todos os segmentos de público se juntam para assistir ao mesmo produto. Não se trata apenas de mais um blockbuster, mas sim de uma trama que leva, ao mesmo tempo, cinema autoral e excelência técnica à trajetória de uma pessoa que não consegue conviver com traumas do passado.

O último filme da saga se passa oito anos após a morte de Harvey Dent/Duas Caras (Aaron Eckhart), num momento em que os crimes foram praticamente erradicados de Gothan. A morte do promotor público foi o estopim para modificações na legislação e na fuga de diversos corruptos locais. A culpa pelo crime recaiu, no entanto, sobre Batman (Christian Bale), o qual nunca mais foi visto desde aquela noite.  Após sua aposentadoria como super-herói, o bilionário Bruce Wayne isola-se em sua própria mansão. O antes forte justiceiro está frágil, precisando de uma bengala para se locomover. Sem atuar como o homem-morcego, ele se torna uma figura sem propósito, vagando sem diretrizes.  A situação somente começa a se modificar quando Selina Kyle (Anne Hathaway) furta o protagonista. No entanto, é a vinda de Blane (Tom Hardy), ex-membro da Liga das Sombras, que resulta no ressurgimento do Cavaleiro das Trevas . Em contraste com a própria ideologia higienista que propaga, o vilão organiza seus trabalhos nos subterrâneos, isto é, ele organiza a limpeza moral da cidade no local onde a mesma despeja seus dejetos. Além dos já conhecidos Comissário Gordan (Gary Oldman), Alfred (Michael Caine) e Fox (Morgan Freeman), são apresentados novos personagens, como o jovem policial Blake (Joseph Gordon-Levitt) e a investidora Miranda (Marion Cottilard).

Como fechamento bem-sucedido, o filme dialoga com seus antecessores Batman - O Cavaleiro das Trevas (The Dark Knight), de 2008, e Batman Begins (idem), de 2005. Não só personagens são retomados, mas também conflitos já evidenciados nas outras obras. No entanto, dessa vez, a figura central é a própria cidade de Gothan. Ao longo de quase três horas, diversos eus fictícios e subtramas são apresentadas, o que enfraquece a coesão da história. O excesso de situações em alguns momentos resulta em resoluções rápidas e insípidas. A segunda recuperação física de Bruce é, por exemplo, mostrada de uma forma um tanto quanto superficial se comparada à gravidade da lesão. Além disso, o desfile de personagens é tão intenso que o próprio Batman se torna coadjuvante.


O longa-metragem trabalha com situações de contraste entre o corpo e o olhar, a natureza física e a psicológica. Nem sempre a mente aguenta fazer aquilo que é preciso, então, aqueles que nos apoiaram (ou poderiam fazê-lo) nos abandonam, buscando se autoproteger. Os personagens da trilogia de Christopher Nolan não são figuras irreais que colocam a salvação do mundo acima de tudo: eles têm fraquezas, anseios, dúvidas, decepções. O olhar de Blake perante a figura de Batman é impressionante, pois exala de uma forma muito intensa a admiração do jovem policial idealista. A mesma figura que tem o Homem-Morcego como ídolo vê, no entanto, de forma decepcionada o trabalho dos policiais que guardam a ponte que liga Gothan ao resto do mundo. Em contrapartida, o aspecto visual mais evidente em Bane é sua aparência física impressionante, sua máscara assustadora e sua voz grave e raivosa. No entanto, em determinado momento da trama, o vilão mostra seu outro lado, protagonizando uma cena de pura comoção, a qual fica evidente apenas pela única parte do rosto visível, os olhos.

As atuações são, inclusive, uma atração à parte, em especial a de Michael Caine. O mordomo de forte sotaque britânico protagoniza duas das mais emocionantes cenas do longa-metragem. Diferentemente dos dois outros Batmans, dessa vez, ele se mostra cansado e preocupado. A relação paternal com Bruce se modifica e as piadas tão comuns em suas falas dão lugar a diálogos profundos e tristes. Christian Bale protagoniza, por sua vez, um personagem que transita entre o frágil e o inabalável. O ator consegue passar as dificuldades físicas do personagem, ao evidenciar as dificuldades de locomoção e até mesmo para falar. O aspecto verbal, inclusive, é um diferencial, pois há uma grande diferencia entre as vozes de Bruce e Batman.  Além de um disfarce, a fala do super-herói é meio rouca meio grave, como se fosse de alguém que quisesse exorcizar seus demônios. Em contrapartida, Anne Hathaway dá vida a uma sensual e muito elegante Selina Kyle. No entanto, apesar de também participar de cenas de ação, a ladra é a principal fonte de leveza da trama, protagonizando a maioria das cenas de humor e romance.  Já os personagens de Gary Oldman e Morgan Freeman dessa vez têm um pouco menos de destaque, mas continuam exitosos em seus papéis.


Aliada às boas atuações, está a quase onipresente trilha de Hans Zimmer. As canções que embalam a maior parte da trama são tão envolventes e bem encaixadas que dão força às cenas em que não estão presentes. É o caso, por exemplo, do primeiro embate entre Batman e Bane, em que os sons dos golpes embalam a própria cena. O mesmo ocorre no momento em que um menino canta em um estádio de futebol, pois a voz frágil e comovida do garoto dá um tom ainda mais dramático ao que vai ocorrer. Já a montagem sofre em parte com o excesso de subtramas. As cenas iniciais, como o primeiro dos dois discursos de Gordon no Dent Day e o sequestro do Dr. Pavel, se mostram pouco necessárias à narrativa, trucando o desenrolar da história. Apesar disso, a trama está razoavelmente bem costurada e detém algumas boas montagens paralelas, que dão ainda mais dinamismo às sequências.

Do ponto de vista ideológico, a narrativa se mostra um pouco contraditória. Afinal, o mesmo Batman que conviveu na cadeia com diversos presos - e foi ajudado por muitos – parece aprovar o rigor da Lei Dent. Devido à nova legislação, os detentos praticamente têm seus direitos anulados, chegando ao cúmulo de se prender mulheres junto a homens. Independente de pontos de vista políticos, soa estranho a forma totalmente diferente de como são mostrados os prisioneiros de Pietra Dura e os quase maníacos de Arkhan e Blakegate. Ao mesmo tempo, parece ainda mais estranho o fato de que, mesmo após o ocorrido no estádio de futebol, parte da população se alia à Blane. Os tribunais quase jacobinos parecem forçados demais para uma cidade muito mais oprimida e amedrontada do que adepta de um discurso social altamente totalitário.


Apesar de alguns poréns, O Cavaleiro das Trevas Ressurge encerra de forma muito qualificada uma trilogia que provavelmente vai entrar para história do cinema de super-herói. A opção por um enredo mais naturalista, fugindo às fantasias comuns dos HQs e aos maniqueísmos, deram base para o desenrolar de uma saga bem costurada, que dialoga entre si e com a própria sociedade atual. Diferentemente do que li e ouvi por aí, não considero o final ambíguo. Devido às diversas situações dentro da história, em especial ao último diálogo de Fox, parece-me certo que o desfecho de Batman foi realmente aquele mostrado, não sendo, portanto, produto da imaginação de outro personagem.  Os 12 milhões de habitantes da fictícia metrópole norte-americana terão, portanto, que contar com outra figura, caso isso seja necessário.


Batman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge
Título original: The Dark Knight Rises 
Ano: 2012                          Estreia no Brasil: Jul/12
Direção: Christopher Nolan
Roteiro: Christopher Nolan, Jonathan Nolan e David S. Goyer
Com: Christian Bale, Michael Caine, Gary Oldman, Morgan Freeman, Anne Hathaway, Marion Cotillard, 
Joseph Gordon-Levitt, Tom Hardy, entre outros.

Duração: 164 minutos

4 comentários:

  1. .... O filme veio,literalmente esse ano, para bombar. Não temos mais aquele herói perfeitinho e impoluto, o homem ressurge por detrás da máquina e se mostra bem mais real, palpável, viável. O nosso cavaleiro das trevas está mais verossímil com seus medos, suas fraquezas, suas dúvidas e o cast do elenco que lhe acompanha com a participação excelente de Michal Caine como Alfred Pennywriser, é absolutamente perfeita, porque todos os atores sabem exatamente a que vieram e porquê. Magistral, fantástico, excelente, a ficção ultrapassou de longe o ficcionismo, é praticamente real, é completamente verdadeira. Loas por esse longa tão bem roteirizado e estruturado por Christian Nolan e pela interpretação impecável desse Batman soturno e sofrido, vivido por Christian Bale. Perfect!!

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  2. Eu achei as cenas da mulher gato curtas e rápidas, as imagens do trailer é a própria cena e não a continuação de uma.A dublagem dela é horrível,acho que legendado vc consegue perceber melhor a atuação e ótima interpretação,no original ela faz uma voz muito sedutora .
    Mas o filme é maravilhoso,tenso,engraçado e final surpreendente.
    Lucius fox –Bunita sua namoradinha Sr Wayne
    Selina kyle – Ele não tem tanta sorte

    Selina kyle - Nunca roube de quem tem mais fome que vc

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    1. A Anne está muito bem de Selina sim. Não posso falar sobre a versão dublada, pois só assisto filmes com os áudios originais. No entanto, tenho certeza que o Batman dublado sofreu vários danos. Afinal, a fala é um elemento importantíssimo da atuação.

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  3. concordo!! mas o filme dublado é mais simples de acompanhar

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